sexta-feira, 23 de julho de 2010

Onde quer que o "eu pessoal" toca, é dado um passo em direção ao sofrimento

O "eu" é o dedo quebrado que, onde tudo toca, experimenta a dor. Assim, Mooji me conduz à afirmação de que a identificação com este "eu" é o que traz sofrimento e dor. Onde quer que este "eu" vá, sempre haverá uma questão a resolver ou um problema. O que quer que ele toque, na ignorância da crença, traz dor a si mesmo e aos outros.

E no meio desta identificação, o "eu" imagina que a dor é causada pelo "outro", quando na verdade, ele próprio se auto-detona.

"A identificação com este "eu" está a raiz do sofrimento. Quando você escolhe o que deveria experienciar, você sofre. Quando você escolhe o que deveria aprender, você sofre. Quando você está constantemente interpretando como as coisas são ou como deveriam ser, o que você merece ou o que não merece, você sofre. Onde quer que haja orgulho, apegos, expectativas, julgamentos ou desejos, há sofrimento. Quando despertamos da ignorância para a nossa verdadeira natureza, o sofrimento é inexistente". [Mooji, Antes do Eu Sou]

domingo, 11 de julho de 2010

Toda experiência é de natureza impermanente

 A natureza da impermanência deve ser absorvida diariamente. Não há como negar sua existência, algo intrínseco à vida de quaisquer seres vivos e à própria existência. A seguir Joseph Goldstein, professor e co-fundador do Insight Meditation Society, descreve habilmente em entrevista os aspectos que envolvem a natureza da impermanência. 

Joseph Goldstein: As três características – impermanência, sofrimento e não-eu, são uma clara e sucinta descrição da natureza dos fenômenos condicionados. Quando olhamos, nós vemos que toda experiência está constantemente mudando e que é, portanto, não confiável; e esta experiência surge devido às condições e não de um desejo nosso de que as coisas sejam de um certo jeito. Entretanto, apenas a compreensão dessas três características não é suficiente. É a sabedoria que se adquire ao experienciá-las profundamente que liberta a mente do apego.
O perigo em qualquer tradição espiritual é permanecer no nível filosófico. No Budismo, podemos facilmente nos perder só no pensamento das várias listas – as Quatro Nobres Verdades, o Caminho Óctuplo, os Cinco Obstáculos, os Sete Fatores da Iluminação. É importante seguir essas formulações dos ensinamentos na sua essência e explorar como elas podem servir para a nossa libertação para que estejamos não só conectados, mas inspirados pela verdadeira mensagem de Buda. 

(...) a impermanência é tão óbvia para quase todas as pessoas que, a grosso modo, nós geralmente a ignoramos. É uma verdade tão comum que não lhe damos nenhuma importância. E no entanto, quando realmente prestamos atenção, quando trazemos energia e um interesse real para esse entendimento, quando estamos realmente e vitalmente experimentando a impermanência da nossa experiência presente, nesse momento a mente não está se apegando. Esse é um fruto imediato – a mente livre de contrações, um coração relaxado. 

Inquiring Mind: Nos ensinamentos do Buda, você acha que é dada mais importância a alguma das três características como uma porta de acesso para a libertação?
J.G: Na teoria do abhidhamma, qualquer uma das três características é potencialmente a porta para a libertação: as pessoas podem ir pela porta da impermanência, pela porta do sofrimento ou pela porta número três do não-eu. Na prática do dhamma, qualquer uma das três características se apresenta mais prontamente para pessoas de temperamentos diferentes.

Aquelas que vão pela porta da impermanência têm uma tendência para a ; aquelas que vão pela porta do sofrimento têm uma facilidade para a concentração; e aquelas que vão pela porta do não-eu têm uma sabedoria desenvolvida. 

I.M: Como é que a porta da impermanência está ligada com a fé?
J.G: Quando estou experimentando completamente a impermanência, a imagem que surge com frequência na mente, é a da prática de “rafting” em corredeiras. Nossa resposta ao perigo parece ser, ou de pânico e nos agarrarmos, ou de nos soltarmos completamente. Depois de termos passado por algumas corredeiras, desenvolvemos a fé e confiança para nos entregarmos e nos soltarmos. Nesse ponto da experiência, a fé parece ser a opção mais sábia.  

I.M: Como você descreve a impermanência?
J.G: Impermanência é a verdade básica universal e constante da mudança. Impermanência é, ao mesmo tempo, um processo contínuo de perda, no qual as coisas existem e então desaparecem, e um processo contínuo de renascimento ou criatividade no qual as coisas que não existem repentinamente aparecem.

Podemos ver isso momento a momento na meditação. Por exemplo, sons, pensamentos ou sensações continuamente desaparecendo e novos surgindo. Podemos, também, ver isso claramente em situações corriqueiras das nossas vidas. Onde foi parar nossa experiência do café da manhã lá pelo fim da manhã? Onde ficou aquela conversa que tivemos com um amigo, no dia seguinte? Algumas vezes, estamos mais conscientes das coisas novas que estão surgindo, e outras, notamos o seu desaparecimento. Mas, a mudança é sempre óbvia quando prestamos atenção.

Eu acho muito poderosa a prática de prestar atenção, momento a momento, na experiência da mudança. Ao invés de somente ficar perdido no conteúdo do que está acontecendo, é possível, simultaneamente, prestar atenção ao fato de que a toda experiência está se alterando e fluindo, sempre. Isso não é uma coisa tão difícil de se fazer, mas é mais difícil lembrar de fazê-lo.

Ser capaz de manter essa perspectiva da natureza transitória da experiência (...), ajuda a aliviar a ansiedade na mente. Por exemplo, daqui há seis meses, será que nos lembraremos da raiva ou tristeza ou mesmo da alegria desse momento? Isso não significa ser insensível ou irresponsável pelo que está acontecendo ao nosso redor, mas sim olhar com o entendimento de que tudo está sempre mudando. Nós sabemos dessa verdade de forma abstrata mas com frequência, não desfrutamos dessa sabedoria. O ponto principal, realmente, é: como usar a impermanência como um método para libertar a mente.


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Segue divulgação do Retiro Alegria de Viver, entre 21 e 25 de julho de 2010.

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