quarta-feira, 19 de junho de 2013

O nível mais profundo da consciência que se pode experimentar



A consciência é parecida com o rolo de um filme. esse rolo de filme é feito de vários quadros com um pequeno espaço entre eles.

Quando olhamos para fora, estamos assistindo vários filmes em nossa mente. Não vemos o intervalo entre esses cenários, apenas ouvimos, sentimos o cheiro, o gosto, o toque, etc. Na verdade, não os vemos, porque nossa mente é muito lenta. A mente é muito vagarosa. É como se cada um desses fragmentos passasse ao mesmo tempo, instantaneamente. Então, surge a ilusão de um mundo sólido, a ilusão de um “eu” presente que está experimentando algo. É uma ilusão muito inteligente, mas profundamente enraizado na mente.

É o nível mais profundo da meditação vipassana. Ver a realidade como ela é. Ver como nos apegamos aos objetos dos sentidos, como nos apegamos ao sentido da existência do “eu”, que basicamente nos leva a fazer tudo o que fazemos na vida. A acreditar em tudo. Porque toda a vida é levada pelo sentido do “eu”.

A nossa experiência possui 03 aspectos: o “conhecedor”, que é a sensação do “eu”, e então, há o “conhecido”, que é o objeto que experimentamos. Quando se ouve um som, este é o “conhecido”, no sentido de que “estou ouvindo um som”. O “conhecedor”, com o sujeito e o objeto. Mas nós não vemos o que existe no meio. No meio está a consciência. No meio, está a consciência do “estar consciente”. Mas nós não a vemos porque a mente pula do “conhecedor” para o “conhecido”, devido ao seu apego. E estamos tão focados nos objetos do nosso apego, que não vemos o espaço existente entre eles. Não vemos o “estar consciente”. E é assim que a ilusão do “eu” surge.

E assim acontece em Vipassana, treinamos a nos desapegar do objeto. E, quando estamos prontos a nos desapegar do objeto, então a sensação do “eu” começa a se enfraquecer, mas ainda está lá. E aí devemos voltar nossa atenção para essa sensação do “eu” para ver como essa sensação surge. E podemos observar diretamente como a sensação do “eu” cresce de acordo com a dimensão do nosso apego, ou aversão. A sensação de apego parece ser bastante real e forte. Com a prática de Vipassana, começamos a deixar passar o apego e as reações aos vários estímulos e, então, a mente pode se expandir. Ao se expandir, a mente percebe que mais e mais coisas podem surgir e desaparecer sem apego e a sensação do “eu” começa a desaparecer.

Essa é uma percepção direta, uma observação direta de como a sensação do “eu” é feita de desejo. Quanto mais desejos e aversões você tem, mais forte é o sentido do “eu”. E quando você deixa passar, a sensação do “eu” começa a enfraquecer e, como o tempo, desaparece. Mas o problema que acontece com muitos meditadores é que eles conseguem deixar passar todas essas coisas, mas quando começam a se desapegar do mundo exterior, das suas sensações, percepções e pensamentos, o medo surge. Porque é basicamente como o medo da morte, principalmente o medo da morte do ego: o medo de se desapegar da sensação do “eu”, de se desapegar de pensar que o “eu” é de alguma forma real e, então, você nunca vai conseguir se livrar disso e entrar nos níveis mais profundos da meditação, porque nesses níveis mais profundos de meditação, isso parece quase como a morte, ou a morte do “ego”. 

E é por isso que a mente das pessoas é empurrada de volta para mais atividades. E elas começam, então a fazer coisas e a pensar para não perder a sensação do “eu”. Mas, se você compreender a natureza do ego, e do “eu”, então não vai ter medo de deixar passar. E, se você é capaz gradualmente de deixar passar, então você poderá experimentar uma transição completa da consciência. A consciência se transforma num tipo de experiência mais expandida e universal quando a sensação do “eu” desaparece. 


É a verdadeira liberação, porque a maior prisão é estar preso ao ego: ser um prisioneiro do “eu”, “me” e “meu” e todos os seus hábitos. Então quando se é finalmente livre dos últimos traços da sensação do “eu”, sua mente se torna livre verdadeiramente. Na linguagem do Buda, esse é o mais profundo estado de liberação. Mas é um processo gradual. Primeiro, nos liberamos do apego às coisas externas, do apego às sensações, do apego às percepções, nos liberamos da prisão das formações mentais, das ações, e por fim, o intelectual, esse último vestígio de traço do “eu” e se experimenta a verdadeira liberação do sofrimento. A superação da ilusão do ego. Esse é o nível mais profundo que se pode experimentar As Quatro Nobres Verdades.

[Bhante Rahula]

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